“Morra quem morrer...” esta criminosa frase proferida
pelo prefeito de Itabuna-BA no dia 30 de junho, parece representar a forma
como o Brasil tem conduzido a pandemia do covid-19, país este, denunciado há
uma semana na ONU, por 162 organizações e movimentos sociais sobre a má
condução do seu governo federal diante da crise causada pelo coronavírus.
O mais aterrador é que ao ampliarmos para o contexto
mundial, outros países tem também demonstrado o quanto estão despreparados para
lidar com essa pandemia e de forma irresponsável tem colocado inúmeras vidas em
risco, bem como desenvolvendo disputas e competições em torno da política e
economia, agora transformadas em laboratórios, tendo seus dados manipulados,
discursos produzidos que transformam “fake news” em “verdades” e a permanência do caos social, diante de uma
indiferença da massa popular, que parece cansada e entediada do isolamento
social.
Sabemos que entre os anos de 2008 e 2009, houve uma grande
crise financeira que colocou o mundo em recessão, sobretudo, EUA e Europa, sendo
que os primeiros se recuperaram mais rápido devido a ação do governo estadunidense
de flexibilidade econômica, o que permitiu, por exemplo, no campo do trabalho,
agilidade de atuação tanto na quantidade de demissões de funcionários, quanto nas
recontratações. Já o sistema europeu, mais enrijecido evitou cortar a folha de
pagamento, dificultando demissões, mas também encarecendo as recontratações.
Hoje, de acordo com o El investidor, a pandemia da
covid-19 traz uma nova crise, ou novo colapso, devido a “parada” de setores
econômicos a fim de frear o avanço do vírus e de uma só vez oferta e demanda
colocaram o pé no freio. A maior parte dos países europeus adotaram lockdowns
rigorosos que ajudaram a conter o avanço do coronavírus, mas instabilizaram a
economia, já os EUA, na liderança de Thump, tem priorizado a atividade
econômica, mesmo com a manutenção do crescimento dos contaminados. De acordo
com alguns analistas, os EUA terão mais prejuízos pós pandemia do que o
continente europeu, inclusive disparou o número de desempregados neste país.
Ainda sobre economia, quase todos os países tiveram de
intervir e oferecer ajuda nesse contexto, e a dívida passou a ser um
denominador comum de vários países, as previsões do FMI aponta para uma dívida
global relativa ao PIB de 2020, com um aumento de 19%. Isso porque não se tem
ainda previsão para o fim da pandemia.
De acordo com a OMS, no dia 04 de julho, houve um recorde
mundial de casos confirmados oficialmente do novo coronavírus, um aumento de
212.326 casos em apenas 24h, ainda neste relatório informativo, os três países que
apresentaram o maior número de novos casos foram: os Estados Unidos, Brasil e
Índia, e os três que registraram maior número de óbitos foram em sequência:
Brasil, México e EUA.
No crepúsculo de junho, Tedros Ghebreyesus, o diretor-geral
da OMS, alertou para o fato de que a pandemia do covid-19, ainda estaria longe
de acabar e que o pior ainda estaria por vir, apesar de muitos países terem desenvolvido
ações de combate (uns mais do que outros) contra o vírus. Além disso, há três
dias um grupo de cientistas (239 cientistas de 32 países), assinaram uma carta
aberta publicada pelo New York Times, informando que há evidências de que o
novo coronavírus pode também ser transmitido por pequenas partículas de ar, análise
que já está sendo revista pela OMS, e que apresenta uma situação que tende a se
agravar sob o risco de novas ondas.
Os EUA de Donald Trump, que vinha adotando uma série de
medidas flexíveis a fim de conter o desastre econômico, hoje (06 de julho),
registrou novos recordes de aumento de casos e mortes, colocando em xeque essas
medidas, mesmo após o seu presidente ter declarado, no 04 de julho, que 99% dos
casos da covid-19 são inofensivos. O país ultrapassou a marca dos 130 mil
mortos e alguns Estados como Miami voltaram a adotar medidas de isolamento
social.
Enquanto isso seu filho adotivo (o Brasil de Bolsonaro), ainda
se mantém como epicentro da pandemia, e ainda assim vem tomando medidas que
andam na contramão do que recomenda a Organização Mundial de Saúde, a exemplo
dos vetos do presidente sobre o uso obrigatório da máscara em locais fechados
tais como: no comércio, nas igrejas, em escolas, prisões.
A índia vem se constituindo como o terceiro país com maior índice
de contágios do mundo, registrando hoje (06 de julho) um aumento de 24.000
novos casos em 24h. Ao todo são 697.358 contaminados oficiais e cerca de 20.000
mortes. Com situação crítica, os hospitais em muitas cidades indianas estão
saturados a exemplo de Nova Délhi que precisou abrir leitos feitos com papelão
para abrigar pessoas contaminadas.
Na América, após o Brasil e EUA, o Peru era o país com maiores
contágios, já chegando a ser o quinto do mundo, até ser ultrapassado pelo
México que segundo o G1, nesta primeira semana de julho ultrapassou o número de
óbitos da Espanha e está em uma curva ascendente de novos casos. No continente
europeu, um dos países menos afetados pela pandemia por conta das medidas
rígidas adotadas em prol do isolamento social, a Alemanha, ainda não voltou a
normalidade de suas atividades e seus representantes políticos tem declarado estarem
preocupados com a crise socioeconômica que também atingirá o país.
No século XVI, Thomas Hobbes, defendeu a necessidade de um
governante soberano, a frente do Estado, a fim de conter a barbárie que segundo
ele “naturalmente” acomete o ser humano (seu próprio lobo), ao relacionarmos
(de forma bem reducionista), essa pontual observação de Hobbes com o contexto atual,
verificamos como a pandemia tem escancarado a barbaridade, apatia e
indiferença, sobretudo, as desigualdades sociais, a começar pelos governantes (homens-lobos
do próprio homem).
Estamos assistindo uma olímpiada mundial com lideranças
desvairadas em busca de poder enquanto vidas estão sendo perdidas, na maioria
das vezes pela ganância, indiferença e individualidade extrema, pérolas como: morra
quem morrer, não são exceções no mundo. Diante de tanta perplexidade, sobre
a insensibilidade de lideranças políticas com as mortes e doentes, não nos
resta outra coisa, a não ser encerrarmos essa escrita com o trecho de uma
canção do Zé Ramalho que parece traduzir a indignação por detrás dessas
letras: "Os gritos no silêncio não assustam,
corações animais..."
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