O inimigo
comum do globo é o vírus... em tese. O que vemos nas práticas governamentais de
vários Estados são disputas, trocas de acusações, inimigos digladiando, busca
por culpados, competição pelo poder, quem vai descobrir a vacina, quem vai
consumir, quem vai pagar o preço de tudo isso. Tudo isso se esbarra na
geopolítica e na reconfiguração de como vai ser o mundo pós-covid-19?
A
Organização Mundial da Saúde (OMS), nos finais de maio declarou que a América
do Sul, liderado pelo Brasil, seria o novo epicentro do mundo em casos de
covid-19. Em 22 de maio, o referido país contava com 310.087 casos confirmados
e 28.168 óbitos. Neste mesmo dia, os EUA superaram a marca dos 95 mil mortos e
na Europa o Reino Unido anunciava que iria impor uma quarentena compulsória por
14 dias, por conta dos novos casos e óbitos causados pela pandemia que ao
contrário do que pensaram não estava se extinguindo. Enquanto isso, a Espanha,
neste mesmo dia, que havia saído da lista como epicentro, realizou a primeira
medida de retomada das atividades, flexibilizando as medidas restritivas tendo
ainda 446 casos confirmados e 59 óbitos nas últimas 24 horas.
Passado
mais ou menos um mês a partir desse cenário, o Brasil já superou os EUA em
termos de números de mortos e infectados, se tornando o epicentro da epidemia,
os EUA mantendo índices altos de mortos e contaminados, e a OMS, tem
declarado que a segunda onda da Covid-19 está ameaçando a Europa. Hoje (26 de
junho), oficialmente o Brasil apresenta 40 mil novos casos em 24h, enquanto os
EUA 35 mil. Após alguns países europeus terem flexibilizado o isolamento, a OMS
apresentou um alerta de que tem havido um aumento significativo de infecções na
Europa, inclusive na Itália e Espanha (há dois meses epicentros), tendo a
Ucrânia como recordista.
Em
relação a Ásia, o site do G1, publicou uma notícia no dia 17 de junho,
informando um crescimento de novos casos do vírus, na China, Japão e Índia. Em
Pequim um novo isolamento foi decretado, apesar das polêmicas que investem a
China, desde o começo da pandemia, o disse me disse, e as confabulações em
torno de seus dados, informes e motivações, tem soltado um alerta de cuidado
para o que estão denominando de segunda onda do vírus. Juntamente com o Japão e
a Coreia do Sul que já passaram pela reabertura das atividades, voltaram a
tomar medidas restritivas diante de novos focos de contaminação. Uma novela que
parece estar longe de terminar...
O G1
também trouxe dados referentes ao aceleramento do novo coronavírus em pelo
menos dez países do continente africano, que em 11 de junho contava com 207, 6
mil casos, com 5 mil óbitos. Países como a África do Sul que havia iniciado o
relaxamento gradual das atividades, tem sido o mais atingido por novos casos.
Na
Oceania que em meados de abril, foi anunciada pela BBC News como sendo um dos
territórios a terem menor índice de contaminação, só perdia para a
Antártida (sem casos confirmados), no começo de junho tem reaberto suas
atividades, após três meses de isolamento rigoroso, a expectativa é que com as
medidas restritivas e severas de contenção da pandemia, consiga, evitar novas
ondas. Tudo é muito incerto...
No
mundo de incertezas e (des)razões, onde
o “pode ser” e o “pode não ser” tem regido essa grande sinfonia desafinada que
sufoca os gritos dos excluídos, marginalizados e oprimidos no dia a dia do
globo, avalanches de notícias e informações, que poderiam mascarar as
desigualdades outras dessa nossa sociedade distópica, tem ao contrário
escancarado mazelas, crueldades e injustiças, colocando na pauta diária aqueles
que podem, ou não, ser submetidos a quarentena, jogando com vidas e insuflando
disputas em meio a um caos inédito na história da humanidade... apesar de já
termos tidos registros de inúmeras pandemias em todo o mundo há milhares de anos,
é a primeira vez que essa avalanche “para” um mundo inteiro na mesma ordem do
dia.
E nessa nova
configuração global que vem se formando, é inevitável não lembrarmos do saudoso
Saramago, quando em 2005 publicou uma obra que como ponto de partida declarou “...
no dia seguinte ninguém morreu, pois a morte acabava de entrar em greve”, ao
reportarmos essa reflexão para nossos dias, trazendo outra de suas produções,
em 2020 também vemos alastrar uma pandemia ainda maior que a covid-19 (que
terrivelmente tem causado tantas dores e perdas), o vírus que Saramago de forma
magistral trouxe em sua obra Ensaio sobre a cegueira, aquela pandemia branca,
que tem revestido discursos como o de Donald Trump (EUA), Alexander Lukashenko
(Bielorússia), Gurbanguly Berdimuhamedow (Turcomenistão), Jair Bolsonaro
(Brasil), dentre outros.
Em 2020, a razão decidiu entrar em
quarentena.
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