DE OLHO NO MUNDO: Um Panorama sobre a Pandemia

Distopia (traduzido do grego: lugar doente), tem sido um dos termos mais recorrentes da nossa contemporaneidade, inclusive várias conjecturas e associações tem sido feitas desde que a epidemia do novo coronavírus começou a se alastrar pelo mundo, uma delas é a quarentena global como forma de propiciar a construção de uma sociedade hiper tecnológica que irá comprometer ainda mais a sociabilidade humana, rumo a um cotidiano virtual.  Outros apresentam uma realidade sinistra na qual a distopia sanitária contribuiria para a instalação de regimes autoritários, aos moldes de 1984 do Orwell. E as especulações não param.


O inimigo comum do globo é o vírus... em tese. O que vemos nas práticas governamentais de vários Estados são disputas, trocas de acusações, inimigos digladiando, busca por culpados, competição pelo poder, quem vai descobrir a vacina, quem vai consumir, quem vai pagar o preço de tudo isso. Tudo isso se esbarra na geopolítica e na reconfiguração de como vai ser o mundo pós-covid-19?

A Organização Mundial da Saúde (OMS), nos finais de maio declarou que a América do Sul, liderado pelo Brasil, seria o novo epicentro do mundo em casos de covid-19. Em 22 de maio, o referido país contava com 310.087 casos confirmados e 28.168 óbitos. Neste mesmo dia, os EUA superaram a marca dos 95 mil mortos e na Europa o Reino Unido anunciava que iria impor uma quarentena compulsória por 14 dias, por conta dos novos casos e óbitos causados pela pandemia que ao contrário do que pensaram não estava se extinguindo. Enquanto isso, a Espanha, neste mesmo dia, que havia saído da lista como epicentro, realizou a primeira medida de retomada das atividades, flexibilizando as medidas restritivas tendo ainda 446 casos confirmados e 59 óbitos nas últimas 24 horas.

Passado mais ou menos um mês a partir desse cenário, o Brasil já superou os EUA em termos de números de mortos e infectados, se tornando o epicentro da epidemia, os EUA mantendo índices altos de mortos e contaminados, e a OMS, tem declarado que a segunda onda da Covid-19 está ameaçando a Europa. Hoje (26 de junho), oficialmente o Brasil apresenta 40 mil novos casos em 24h, enquanto os EUA 35 mil. Após alguns países europeus terem flexibilizado o isolamento, a OMS apresentou um alerta de que tem havido um aumento significativo de infecções na Europa, inclusive na Itália e Espanha (há dois meses epicentros), tendo a Ucrânia como recordista.

Em relação a Ásia, o site do G1, publicou uma notícia no dia 17 de junho, informando um crescimento de novos casos do vírus, na China, Japão e Índia. Em Pequim um novo isolamento foi decretado, apesar das polêmicas que investem a China, desde o começo da pandemia, o disse me disse, e as confabulações em torno de seus dados, informes e motivações, tem soltado um alerta de cuidado para o que estão denominando de segunda onda do vírus. Juntamente com o Japão e a Coreia do Sul que já passaram pela reabertura das atividades, voltaram a tomar medidas restritivas diante de novos focos de contaminação. Uma novela que parece estar longe de terminar...

O G1 também trouxe dados referentes ao aceleramento do novo coronavírus em pelo menos dez países do continente africano, que em 11 de junho contava com 207, 6 mil casos, com 5 mil óbitos. Países como a África do Sul que havia iniciado o relaxamento gradual das atividades, tem sido o mais atingido por novos casos.

Na Oceania que em meados de abril, foi anunciada pela BBC News como sendo um dos territórios a terem menor índice de contaminação, só perdia para a Antártida (sem casos confirmados), no começo de junho tem reaberto suas atividades, após três meses de isolamento rigoroso, a expectativa é que com as medidas restritivas e severas de contenção da pandemia, consiga, evitar novas ondas. Tudo é muito incerto...

No mundo de incertezas e (des)razões,  onde o “pode ser” e o “pode não ser” tem regido essa grande sinfonia desafinada que sufoca os gritos dos excluídos, marginalizados e oprimidos no dia a dia do globo, avalanches de notícias e informações, que poderiam mascarar as desigualdades outras dessa nossa sociedade distópica, tem ao contrário escancarado mazelas, crueldades e injustiças, colocando na pauta diária aqueles que podem, ou não, ser submetidos a quarentena, jogando com vidas e insuflando disputas em meio a um caos inédito na história da humanidade... apesar de já termos tidos registros de inúmeras pandemias em todo o mundo há milhares de anos, é a primeira vez que essa avalanche “para” um mundo inteiro na mesma ordem do dia.

E nessa nova configuração global que vem se formando, é inevitável não lembrarmos do saudoso Saramago, quando em 2005 publicou uma obra que como ponto de partida declarou “... no dia seguinte ninguém morreu, pois a morte acabava de entrar em greve”, ao reportarmos essa reflexão para nossos dias, trazendo outra de suas produções, em 2020 também vemos alastrar uma pandemia ainda maior que a covid-19 (que terrivelmente tem causado tantas dores e perdas), o vírus que Saramago de forma magistral trouxe em sua obra Ensaio sobre a cegueira, aquela pandemia branca, que tem revestido discursos como o de Donald Trump (EUA), Alexander Lukashenko (Bielorússia), Gurbanguly Berdimuhamedow (Turcomenistão), Jair Bolsonaro (Brasil), dentre outros. Em 2020, a razão decidiu entrar em quarentena.

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